Recentemente, a imprensa noticiou uma iniciativa curiosa. Torcedores do Corinthians estariam organizando uma chave PIX para arrecadar fundos para pagar a dívida criada para a construção da Neo Química Arena – que estaria na casa dos R$ 710 milhões.
A dívida do Corinthians é notória, assim como a paixão de sua torcida. Por isso, não há dúvidas de que esta arrecadação será expressiva. As torcidas organizadas já até alertaram para o fato de que a chave PIX oficial ainda NÃO foi criada para evitar fraudes e golpes.
Agora, imagine um cenário em que os gestores da Caixa transformassem essa dívida em um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e criassem o fundo FIEL11 – um Fundo de Investimento Imobiliário (FII) baseado na dívida do Corinthians para a construção do seu estádio. A garantia seria a alienação fiduciária da renda dos jogos do Timão em Itaquera – algo semelhante ao que já está acontecendo. Você investiria neste fundo?
A resposta de muitos INVESTIDORES seria “não”.
Entretanto, a resposta de milhares de TORCEDORES INVESTIDORES seria “sim”.
Essa suposta contradição nasce da chamada heurística da representatividade. Trata-se de um conceito das finanças comportamentais que revela que muitos investidores tomam a decisão de investir em ações de uma empresa com a qual se sentem emocionalmente conectados.
Por exemplo, quem viveu intensamente a década de 80 pode se lembrar dos comerciais das companhias aéreas. Naquela época, voar de avião era sinônimo de status, luxo e de um extrato bancário bem gordo. A heurística da representatividade acontece quando investidores compram ações das empresas do setor aéreo baseados única e exclusivamente na memória afetiva daquela época. Não analisam seus balanços, múltiplos ou a opinião dos analistas certificados.
Update: recentemente, foram criados e desmentidos inúmeros rumores de um possível pedido de Chapter 11 da Azul (AZUL4) nos Estados Unidos (processo semelhante ao da recuperação judicial no Brasil).
O caso do fundo FIEL11 seria idêntico. Muitos torcedores vão associar o investimento ao amor pelo time e não à real avaliação da situação financeira do clube.
Muitos clubes de futebol podem aprender com essa conexão emocional e apostar em produtos financeiros mais estruturados para atrair mais recursos. Um exemplo é o Manchester United (MANU), que tem suas ações negociadas na Bolsa de Valores de Londres. Isso significa que investidores (e torcedores investidores) podem literalmente comprar uma parte do clube, alinhando suas paixões esportivas aos seus interesses financeiros.
Mas nem tudo são flores. Apesar de ser um clube de renome global e ter ações na bolsa, o Manchester United (MANU) enfrenta desafios financeiros e de desempenho. Nos últimos anos, o clube teve dificuldades e muitos torcedores não estão nada satisfeitos com os rumos administrativos e esportivos. As ações do clube refletem parte dessa insatisfação, sofrendo oscilações conforme o time enfrenta crises dentro ou fora dos gramados.
Ainda assim, o exemplo do Manchester United (MANU) ilustra como os clubes podem profissionalizar suas finanças e abrir novos horizontes para captação de recursos. Talvez seja a hora de os clubes brasileiros pensarem em estratégias desse tipo para transformar sua paixão em ativos reais. Afinal, muitos torcedores vão gostar de ter parte do seu time do coração na sua carteira de investimentos – independente dos dividendos (ou prejuízos) que isso possa trazer.
Um Abraço e até a próxima !!!
Cassio Utiyama